segunda-feira, 28 de junho de 2021

CDU e as Contas da Câmara: Muita parra e pouca obra!

 


A CDU votou hoje contra as Contas da Câmara da Maia no exercício de 2020, alertando que os resultados muito positivos se devem à falta de realização de obras, muitas delas fundamentais. No ano passado, apesar de terem dotação orçamentada, 103 projectos, incluindo intervenções em edifícios e em arruamentos não tiveram qualquer execução. 

 

Intervenção de Alfredo Maia


É provável que a maioria exulte com os resultados positivos do exercício de 2020, traduzido num saldo de gerência a transitar superior a 37 milhões de euros. E é bom que os resultados sejam positivos e permitam alavancar investimentos e resolver dívidas.

Mas convém olhar com mais atenção para as Contas, pois o que estas mostram é que estamos, como no velho provérbio, perante muita parra e pouca uva, que é como quem diz muitas palavras e pouca obra.

Como bem demonstra o Mapa de Execução do Plano, a taxa de execução do investimento directo quedou-se em 48,7%, com a aplicação de apenas 16,4 milhões dos 33,8 milhões previstos.

O documento evidencia as baixas execuções nas diversas funções do Município: 32,9% dos 2,6 milhões de euros nas Funções Gerais; 54,8% de 17,7 milhões nas Funções Sociais; 45,3% dos mais de 15 milhões previstos no domínio das Funções Económicas; e zero por cento dos ridículos 45 mil euros previstos para Outras Funções.

O documento também mostra que áreas emblemáticas da propaganda do Executivo carecem de acção e de obra, com taxas de execução muito baixas. Alguns exemplos: Protecção Civil e Luta Contra Incêndios: apenas 3,30%; Ensino Pré-escolar: 13,13%; Planeamento urbanístico: 2,85%;  Protecção do Meio Ambiente e Conservação da Natureza: 27,82; Museus e Arquivos Municipais: 16%; e Transportes e Comunicações: 45,9%.

Uma leitura mais atenta do Mapa de Execução do Plano Plurianual de Investimentos mostra uma realidade bem mais crua: Apesar de terem dotação orçamental para o ano em causa, 103 projectos não registaram qualquer gasto, ou seja, a taxa de execução foi zero; 38 registaram taxas de execução iguais ou inferiores a 40%; 29 tiveram taxas de execução iguais ou inferiores a 30%; e 16 observaram taxas de execução iguais ou inferiores a 15%. Há mesmo um projecto em que a taxa foi de uns inacreditáveis 0,88% de um total previsto de 100 900 euros, relativo à aquisição de equipamento básico para escolas básicas…

 

Ora, isso aconteceu porque os projectos são dispensáveis ou pouco importantes? Vejamos:

De entre os 103 com execução zero, destacam-se intervenções de beneficiação e remodelação nos Paços do Concelho; novas instalações das Oficinas e Armazéns Gerais; segurança informática; equipamentos e sistemas de segurança contra incêndios em edifícios e recintos; inúmeras intervenções em escolas; projectos de avaliação ambiental estratégica em diversas áreas do concelho; o Plano Director de Águas Pluviais – Resolução de pontos críticos; reperfilamentos, infra-estruturas e beneficiação em inúmeros arruamentos, assim construção de novos arruamentos e ligações; Centro de Excelência de Bem-estar Animal; instalações sanitárias no Parque da Casa do Alto; projectos de integração paisagística; rearborização e relocalização de árvores em arruamentos; intervenções na Quinta da Gruta; beneficiação da Quinta da Caverneira; modernização do Forum da Maia; ampliação, adaptação e conservação de edifícios para museus municipais; rede de bibliotecas escolares; modernização de equipamentos de várias piscinas e beneficiação de vários pavilhões municipais; requalificação de polidesportivos de rua; reformulação da rede de iluminação pública na Estrada Nacional 14; planos de racionalização de consumo e eficiência energética em edifícios municipais e semáforos; equipamentos de segurança rodoviária; redes cicláveis e requalificação de espaços pedonais e cicláveis; melhoria no interface intermodal de Águas Santas/Palmiheira…

De entre os 29 projectos com taxas de execução iguais ou inferiores a 30%, destacamos a beneficiação da Casa do Corim; a beneficiação da Escola EB1 e Jardim de Infância de Gueifães; o famigerado “Living Lab Maia”; a regularização de uma linha de água afluente do Rio Leça em Moreira; equipamentos diversos para museus municipais; beneficiação do Complexo Municipal de Ténis; e, sublinhe-se, “intervenções de carácter urgente em razão de intempéries ou outras situações furtuitas”, as quais, de tão urgentes que são, executaram apenas 23,4% dos mais de 1,6 milhões orçamentados.

Para justificar as baixas taxas de execução dos investimentos, o documento de prestações de contas invoca, além de condições meteorológicas adversas, as contingências associadas à pandemia de convid-19.

Não negamos a sua relevância, mas gostaríamos de chamar a atenção o mais recente Barómetro Obras Públicas, da Associação dos Industriais de Construção e Obras Públicas (AICCOPN), segundo o qual, em 2020, os contratos de empreitadas de obras públicas cresceram 44%.

Por outro lado, a consulta a notícias contemporâneas das diversas fases da crise pandémica evidencia uma importante capacidade de resistência e manutenção da actividade.

              

Não gostaríamos de terminar esta apreciação crítica às Contas do Município sem referir vários outros tópicos que continuam a preocupar-nos.

Em primeiro lugar, o habitual desequilíbrio nas transferências para as freguesias e para instituições sem fins lucrativos. Nas Contas de 2020 verifica-se que a taxa de execução das transferências de capital para as freguesias foi de apenas 41,5%, importando clarificar a que se deveu.

Em segundo lugar, a derrama que pesa sobre os pequenos e micro empresários. Apesar de, por efeito das medidas covid-19, o Município ter perdido 642 203 euros de receita, o produto da derrama em 2020, superior a nove milhões de euros, registou uma subida de 9,4%. Isto demonstra que é viável – e vantajosa – a proposta da CDU de desonerar parcialmente as pequenas e médias empresas e sobretudo isentar as de baixa faturação.  

Em terceiro lugar, a situação da Tecmaia – Parque de Ciência e Tecnologia da Maia, cuja liquidação tarda demasiado, continuando a pesar com mais de dois milhões de euros no rol das empresas participadas que violam a regra do equilíbrio e mantendo uma expressão sujperior a 2,7 milhões nas provisões constituídas para fazer face a processos judiciais e a riscos associados à participação do Município.

Da certificação legal de contas da Tecmaia, voltamos a relevar as reservas relacionadas com a falta de elementos que permitam aferir da concretização do plano de liquidação aprovado pelos accionistas em 4 de Novembro de 2016, bem como sobre a existência de eventuais contingências legais e outras.

Senhor Presidente da Câmara, quando será enfim liquidada a liquidação da Tecmaia?   

Finalmente, a grave situação do Fundo Imobiliário Maia Imo, que teremos ocasião para tratar noutro ponto, cumprindo-nos voltar a alertar para o seu desempenho desastroso: no exercício de 2020, registou mais um resultado líquido negativo ( - 416 809 euros), mantendo um passivo bancário de 4,2 milhões de euros.

Desde a sua criação, em 2008, apenas em dois anos (2014 e 2015), registou resultados positivos, o que demonstra que foi um erro criá-lo e que é um clamoroso erro mantê-lo.

 

Disse.