segunda-feira, 31 de maio de 2021

Alterações climáticas: CDU reclama atenção às cheias e inundações

 

Cheias causam danos em infraestruturas

No âmbito da discussão e votação, na sessão de hoje da Assembleia Municipal, do Plano Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas, a CDU chamou a atenção para as vulnerabilidades na Maia, especialmente cheias e inundações, e destacou a importância da agricultura familiar.

 

Intervenção de Alfredo Maia

Vários pressupostos fundamentais balizam a análise do fenómeno das alterações climáticas que afecta todo o Planeta, com consequências cada vez mais dramáticas – já hoje! – para muitos milhões de seres humanos, sobretudo os que habitam nas regiões e nos países pobres, mas também em muitas zonas de países desenvolvidos e ricos.

Os pobres são as primeiras e mais sofridas das vítimas dos fenómenos meteorológicos extremos claramente associados à mudança climática – do aumento do número e da intensidade de furações às secas severas e prolongadas; de episódios cada vez mais frequentes de precipitação intensa ao maior número e duração de ondas de calor; de inundações e cheias mais repetidas e mortíferas aos incêndios florestais cada vez mais extensos e mais destrutivos; passando pela gritante vulnerabilidade das populações expostas à subida do nível do mar ou ao avanço da erosão dos solos e da desertificação galopante de extensas áreas.

O problema das alterações climáticas põe em evidência o modo de produção capitalista e rapace que, desde o início da Revolução Industrial, deu largas a seu afã predador dos recursos na ânsia do lucro e ainda hoje, apesar das lições e da evidência científica dos seus erros, continua a resistir à exigência de uma sustentabilidade que reponha a paz entre o Homem e a Natureza e cada vez encontra mais formas de intensificar a exploração dos seus recursos.

Com razão a juventude do meu partido a Juventude Comunista Portuguesa (JCP) concebeu um slogan muito expressivo – O Capitalismo não é verde! – que nos põe de sobreaviso para as suas artimanhas e também para as cumplicidades dos poderes, responsáveis por entraves a avanços imprescindíveis.

É neste quadro que os governos e as autoridades locais se encontram na emergência de adoptar medidas de mitigação e de adaptação, tendo cada vez mais claras as vulnerabilidades dos territórios sob sua jurisdição.

No essencial, o Plano Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas identifica bem essas vulnerabilidades, os fenómenos meteorológicos (precipitação, calor, etc.), os impactes (inundações, danos em infra-estruturas, perda de culturas, incêndios, etc.) e as consequências, assim como projecta as vulnerabilidades e riscos climáticos futuros também no seu território.

É o caso da diminuição da precipitação média anual, o que não quer dizer que não correm fenómenos extremos de precipitação, aumento do número de dias com temperaturas altas e noites tropicais, alterações nos regimes de ventos.

O Plano de Acção para a Adaptação, composto por mais de seis dezenas de medidas a desenvolver pelo Município e outras entidades, abrange inúmeras áreas e opções estratégicas que vão da informação e sensibilização a acções concretas, relacionadas com os problemas de cheias e inundações, erosão hídrica, galerias ripícolas e floresta.

A propósito das cheias e inundações, gostaríamos de voltar a chamar a atenção para a necessidade de recuar a construção em leitos de cheia e a impermeabilização do solo, bem como intervenções urgentes em passagens hidráulicas, indo de resto ao encontro de medidas aqui apontadas, como a garantia das condições de escoamento em linhas de água e sistemas de drenagem de águas pluviais.

É bom que estas questões e medidas constem do Plano de Adaptação, mas não podemos ignorar que questões como a actualização das delimitações de leitos de cheia e a conservação e a reabilitação de pontes e açudes não têm merecido atenção prática, nem sequer no plano de actividades da Câmara.

A CDU também tem insistido na questão das perdas de água e na necessidade de um uso mais eficiente deste recurso, que o plano aborda com medidas específicas, mas que é necessário garantir que serão levadas à prática. Como temos criticado nesta Assembleia, estamos longe de cumprir objectivos ambientalmente adequados.

A CDU é igualmente sensível às medidas que visam o objectivo de aumentar a “terra trabalhada”. De facto, a agricultura familiar, como o PCP tem defendido, mas que as políticas públicas – e especialmente a Polícia Agrícola Comum e a sua extensão prática em Portugal contrariam – é um eixo essencial valorização dos territórios, de garantia da segurança e soberania alimentar e de prestação de serviços ambientais (biodiversidade, ciclo da água, ciclo do carbono, paisagem, etc.), ao contrário dos grandes desígnios da PAC, que privilegia a grande agricultura de produção intensiva, que mais água consome e mais desgasta os solos.

Finalmente, uma nota sobre as expectativas de financiamento – aliás não quantificado, nem sequer com estimativas – através de fundos comunitários, sem referir ainda a célebre e milagrosa “bazuca” do Plano de Recuperação e Resiliência:

A gravidade da situação presente e as perspectivas, cada vez mais confirmadas, de agravamento pelo menos até ao final do século não se compadece da reduzida capacidade de executar medidas.

É fácil colocá-las no papel; o desafio consiste em levá-las à prática, antes que seja demasiado tarde.

 

Disse.