sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Assembleia Municipal aprova proposta da CDU sobre Habitação

CDU tem-se batido pelo fim das bolsas de habitação degradada


A Assembleia Municipal da Maia aprovou, nesta sexta-feira, por unanimidade, uma proposta da CDU para a criação de uma comissão de acompanhamento, no Âmbito da Assembleia, da implementação do programa 1.º Direito - de construção de habitação pública - e da Estratégia Local de Habitação. 


Intervenção de Alfredo Maia


As graves carências habitacionais e as condições insalubres em que ainda vivem muitas pessoas no município da Maia sempre constituíram preocupações dos eleitos comunistas nesta Assembleia, que, não deixando de salientar o papel e as atribuições e competências da Administração Central, têm reclamado da Câmara Municipal maior acção neste domínio.

O Acordo de Colaboração entre o Município e o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) agora em apreciação constitui um dos instrumentos fundamentais de concretização da Estratégia Local de Habitação que a CDU valoriza, mas em relação ao qual entende questionar alguns aspectos.

Em primeiro lugar, a dimensão da população a realojar num horizonte de seis anos, fixada em 757 famílias, às quais correspondem 1723 pessoas.

De facto,

No “Levantamento Nacional das Necessidades de Realojamento Habitacional”, publicado pelo IHRU em Fevereiro de 2018, o número de famílias a realojar no Município da Maia era de 794.

Já o Plano de Actividades e Orçamento da empresa Espaço Municipal para 2021 indica a terem sido identificadas 893 famílias em situação habitacional indigna a alojar com o apoio do programa 1º Direito.

Tendo em conta a evolução demográfica e a degradação das condições económicas e sociais de muitas famílias no curto e médio prazo, é expectável que o número de famílias a necessitar de realojamento digno aumente significativamente.

Impõe-se, por isso, questionar não só quais são as necessidades efectivas no presente – pergunta que a CDU tem feito sem que lhe repondam –, mas também que dados de prospectiva possui o Executivo no sentido de desenhar uma estratégia mais sustentada a prazo.

Em segundo lugar, gostaríamos de partilhar uma reflexão sobre a complexa problemática do financiamento da operação em vista, destacando desde logo duas variáveis de análise fundamentais:

Primeira: Embora a responsabilidade constitucional pela garantia do direito à habitação seja do Estado, será o Município a arcar com mais de 56% do envelope financeiro previsto no Acordo aqui em discussão, assumindo mais de 35,4 milhões dos quase 62,8 milhões previstos;

Segunda – talvez a mais crítica: a celebração dos contratos de comparticipação previstos no Acordo está concretamente “condicionada – citamos – à existência da necessária dotação orçamental, cabendo ao IHRU avaliar a oportunidade da respetiva concessão em função das suas disponibilidades financeiras e orçamentais”.

Por outras palavras e salvo melhor entendimento, na realidade, a concretização da promessa de 757 fogos no prazo de seis anos está de facto dependente do orçamento de um organismo e de um programa cujas dotações têm sido histórica e manifestamente insuficientes.

E a pergunta impõe-se: que garantias teremos de que toda a programação financeira inscrita no Acordo obterá dotação atempada e completa?

A própria programação financeira também suscita algumas interrogações, a começar já neste ano de 2021, para o qual estão previstos nada menos de 318 fogos e um investimento de mais de 2,3 milhões de euros, quando a revisão do Orçamento contempla como dotação definida apenas pouco mais de 404 mil euros.

É de referir que está previsto, já em 2021, do arrendamento para subarrendamento de 170 fogos, por um valor global de 638 280 euros neste ano e de 5,7 milhões até 2025.

Trata-se de uma solução expedita e que responderá a situações de maior emergência, mas é de perguntar: o Município manterá esses contratos para além de 2025? Está prevista a opção de compra?

Entre as soluções previstas no Acordo, está prevista a aquisição de fracções ou prédios para destinar a habitação, bem como a compra de terrenos para nova construção. Mas, pergunta-se, não possui o Município edifícios susceptíveis de adaptação à função habitacional (e outras…) e não é proprietário de uma importante bolsa de terrenos aptos para construção.

Finalmente, algumas breves palavras sobre a proposta de Modelo de Governação e Gestão da Estratégia Local de Habitação, destacando a possibilidade de criação de um Conselho Municipal de Habitação e a criação de mecanismos de acompanhamento e avaliação.

Em relação ao referido Conselho, nada é dito sobre a respectiva composição e, quanto aos mecanismos de acompanhamento e avaliação, está escrito que estes serão da alçada da empresa Espaço Municipal, isto é, a própria encarregada pela gestão técnica e operacional, ou seja, avaliando-se a si própria!

Ora, onde entra a Assembleia Municipal designadamente nesse acompanhamento e avaliação? Que poderes concretos de escrutínio lhe caberão?

 

Dito isto, e porque a proposta em discussão é composta por dois pontos – um relativo ao Acordo entre o Município e o IHRU, passo a requerer desde já a votação dos dois pontos em separado.

Por outro lado, a CDU gostaria de obter a anuência do Plenário para a criação de um mecanismo de acompanhamento e avaliação pela Assembleia Municipal directamente, ou através de uma Comissão de Acompanhamento constituída no âmbito da Assembleia.  

 

Disse.