segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Nova Carta Educativa retirada por acção da CDU

CDU considera que creches devem integrar a oferta educativa 

Graças à acção do Grupo Municipal CDU – Coligação Democrática Unitária, foi retirada da ordem de trabalhos da Assembleia Municipal desta segunda-feira a proposta de revisão da Carta Educativa do concelho da Maia, por não estar acompanhada do parecer do Conselho Municipal de Educação, que a lei impõe.


O presidente da Câmara Municipal e o Grupo Municipal PSD/CDS ainda resistiram à retirada do ponto, alegando que o parecer existe e que foi aprovado por unanimidade naquele órgão consultivo, mas a CDU insistiu que tal documento é de apresentação obrigatória, sob pena de nulidade da deliberação.

No início da discussão desse ponto, a CDU apresentou as seguintes

Questões Prévias

Dispõe o n.º 1 do Art.º 14.º do Decreto-Lei n.º 21/2019, de 30 de Janeiro, na sua redacção actual, designadamente com a aprovação do Decreto-Lei nº 56/2020, de 12 de Agosto, que "a elaboração da carta educativa é da competência da câmara municipal, sendo aprovada pela assembleia municipal respectiva, após discussão e parecer do conselho municipal de educação, e pronúncia do departamento governamental com competência nesta matéria”.

Ora, a proposta não é acompanhada de qualquer parecer do Conselho Municipal de Educação, desconhecendo-se se tal existe e se o Conselho discutiu a proposta aqui apresentada.

Salienta-se, a propósito, que o Regulamento do Conselho Municipal de Educação disponível na respectiva página oficial no sítio electrónico do Município, na qual se lê que se encontra em vigor desde 3 de Fevereiro de 2016, está francamente desactualizado: datado de 2016, não prevê a competência supra referida, mas simplesmente a de "acompanhamento do processo de elaboração" (Cfr. al. b), n.º 1 do Art.º 3.º), pelo que se impõe a sua revisão urgente.

Acresce que o documento "Parte da Acta em minuta" relativa à reunião da Câmara Municipal de 18 de Janeiro se refere a outro ponto da respectiva ordem de trabalhos e não à Carta Educativa.

Por estas razões, o Grupo Municipal propõe que o presente ponto seja retirado da Ordem de Trabalhos, de modo a ser sanada a falta de Parecer do Conselho Municipal de Educação, sem o qual esta Assembleia não pode discutir nem deliberar.

 

Como, mesmo assim, prosseguiu a discussão, a CDU fez uma apreciação à proposta, mas sob protesto.

 

Intervenção de Carla Ribeiro

Tendo em conta que este ponto deveria ter sido retirado, o Grupo Municipal CDU faz de seguida a apreciação, sob protesto, da proposta apresentada.

 

Nos últimos anos, o poder local tem vindo a assumir novas responsabilidades em várias áreas, entre as quais a Educação. Com o devido enquadramento legal obrigatório no Decreto Lei nº 7/2003 de 15 de janeiro, a Carta Educativa assume-se como o instrumento municipal de planeamento e (re)ordenamento da rede educativa, com o objectivo de adequar a rede de edifícios, equipamentos e ofertas educativas e formativas às necessidades sociodemográficas do município, tendo em vista um melhor aproveitamento dos recursos e a qualidade do sistema educativo.

O estudo sociodemográfico incluído na proposta estima que, no espaço de uma década, ocorra um decréscimo da população do município, acompanhado por um envelhecimento e consequente diminuição da população escolar, tanto no cenário central como no cenário optimista.

Para a CDU, este decréscimo da população em geral e escolar, em particular, não pode deixar de ser analisada no âmbito nacional nem desligada do desinvestimento nas políticas de natalidade e laboral.

Também do ponto de vista local, o decréscimo da população não pode deixar de ser analisado na perspectiva de políticas municipais de atractividade da população jovem e de incentivo às famílias, designadamente quanto a oferta de habitação, berçários e creches.

Também a própria variação intra-municipal não pode ficar desligada da maior ou menor atractividade – presente futura – das freguesias menos urbanizadas e com menos população. Assim, no sentido de reverter a situação, o investimento do município deverá apostar no crescimento harmonioso e na garantia de equipamentos e serviços às populações em todas as freguesias.

No entanto, prosseguindo a análise do documento, chegámos à conclusão que o Executivo deste município não está preocupado com a diminuição da população, nem em atrair e fixar jovens famílias no seu território, a não ser que estas sejam ricas e com habilitações superiores.

Veja-se o descrito no ponto 9 – “Maia , um novo destino”, que passo a citar:

“Com um novo conceito de estrutura empresarial e com uma elevação dos níveis de qualificação do capital humano, o concelho da Maia tem de desenvolver um novo conceito de destino residencial de elevada qualidade na Área Metropolitana do Porto. Mais do que atrair, importa fixar quadros médios e superiores, nacionais e estrangeiros, profissões de elevada especialização.”

A questão da mobilidade é um dos aspectos focados, salientando-se a importância das observações e conclusões relativas aos transportes e mobilidade, em especial quando se refere a dificuldade de mobilidade radial dentro do concelho e se identifica com clareza como "fraqueza" a rede de transportes, por todos reconhecida como manifestamente insuficiente e deficiente fora do núcleo central da Maia e especialmente nas freguesias mais periféricas.

Foram salientados pelos alunos dos diversos ciclos de ensino as cantinas, como principais problemas no concelho, o número insuficiente de assistentes operacionais, os WC's, os equipamentos informáticos, os espaços de recreio/actividades de lazer, tendo sido sugeridas as actividades extra (visitas de estudo, animação nos intervalos, actividades extracurriculares, etc.) como elemento potenciador.

Em contraciclo, as prioridades dos agrupamentos são os equipamentos e condições materiais, o que mostra bem o desfasamento das relações entre direcções de escolas e alunos e a falta que faz uma verdadeira escola democrática, com direcções eleitas democraticamente pelos agentes educativos e não como prolongamento do poder dos executivos camarários.

Tanto alunos como direcções dos agrupamentos mencionam ainda a falta de assistentes operacionais, em número, em perfil e em formação. O documento aponta como crítica a precariedade dos vínculos, os contratos de emprego e inserção como factores que contribuem para a pouca atractividade das funções e de escolhas pouco acertadas enquanto perfil desejado para as funções a desempenhar.

Ora, qual é a solução preconizada pelo município? Contratar  em regime de outsourcing assistentes operacionais e assistentes técnicos… ou seja combater a pouca atractividade das funções com vínculos precários e baixos salários.

Finalizando, a CDU considera que em matéria prospectiva da rede educativa e da sua necessária evolução conceptual - e mesmo de um ponto de vista de políticas públicas para uma educação verdadeiramente inclusiva e integral que coloque a criança desde sempre no centro das preocupações - a importância da consagração dos berçários e creches na referida rede. Não obstante o quadro legal em vigor considerar apenas a chamada educação pré-escolar, a proposta de carta educativa salienta - e bem - a importância dessa evolução.

Disse.

 

Mas ponto foi mesmo retirado!

Tendo sido apontados erros graves no documento, nomeadamente pelo grupo Bloco de Esquerda, a CDU retomou a proposta para que o ponto fosse efectivamente retirado, dada a falta do parecer já referida e o facto de, a comprovarem-se, não ser admissível aprovar uma Carta Educativa contendo erros.

Após acesa discussão, durante a qual a CDU chegou a apelar para o plenário quanto à decisão de prosseguir o debate e votação da proposta, o grupo maioritário, Maia em Primeiro, acabou por pedir ao presidente da Câmara que retirasse o documento.

A CDU espera que, quando regressar à Assembleia, a Carta Educativa venha acompanhada do parecer em falta e com a adequada verificação de erros.