sexta-feira, 20 de novembro de 2020

CDU vota contra Orçamento Participativo Jovem

 

Participação política é exaltante quando é colectiva

O Grupo Municipal CDU denunciou, na sessão desta sexta-feira da Assembleia Municipal, a hipocrisia da Câmara Municipal, que não ouve a oposição mas apresentou uma proposta para a criação de um chamado Orçamento Participativo Jovem, como pretensa forma de promover a participação dos jovens na vida política, que não passa de um concurso de de talentos individuais. 


Intervenção de Alfredo Maia

A proposta do Executivo de criação de um Orçamento Participativo Jovem não pode deixar de ser denunciada como um exercício de demagogia e hipocrisia, que justifica a plena rejeição pelos eleitos da CDU – Coligação Democrática Unitária.

De facto, a maioria de direita que governa este Município há mais de quatro décadas não consulta, não ausculta os partidos e coligações da oposição não representados no Executivo, para efeitos da elaboração do Plano de Actividades e do Orçamento, em flagrante violação do Estatuto do Direito de Oposição, do mesmo modo que, segundo se queixam os próprios, nem sequer ouve os vereadores da oposição.

Que se saiba, o Executivo não ausculta as populações sobre as suas aspirações, necessidades e propostas, como provavelmente não consultou as organizações juvenis sobre os respectivos anseios e ideias e como seguramente nem sequer as convidou a pronunciar-se sobre a criação desta iniciativa.

E, no entanto, vem pedir a esta Assembleia e aos eleitos que nunca quis ouvir que apoiem a sua intenção de criar este simulacro de participação a que chama Orçamento Participativo Jovem.

Estas seriam razões bastantes para fundamentar a rejeição da proposta por parte da CDU.

Mas há mais: a própria proposta de Regulamento do Orçamento Participativo Jovem. Ao apresentá-lo como tendo como objectivo essencial a promoção da participação política dos jovens, mais não faz do que reduzi-lo a um mero concurso de talentos individuais.

Comparado com múltiplos regulamentos idênticos que tivemos oportunidade de consultar, este é o único que não admite a participação de grupos de jovens, limitando-a à inscrição individual.

O que este regulamento faz é a antipedagogia da participação cívica e política, promovendo o reconhecimento exclusivamente do mérito individual, em vez de fomentar o trabalho colectivo, o debate das ideias e a concepção dos projectos enriquecidos pelos conhecimentos, experiências, perspectivas e mundividências dos integrantes dos grupos interessados.

A política só pode ser concebida como actividade exaltante quando é feita com os outros e pelos outros, pelo bem comum, como obra colectiva , e não como uma disputa individual.

Para competição juvenil – aliás bem dura – já basta a luta pelas melhores notas que garantam um lugar na Faculdade e a disputa, muitas vezes acirrada e quase fratricida por uma vaga promessa de emprego, aliás frequentemente precário e mal pago.