sexta-feira, 29 de março de 2019

Educação é competência do Estado e não das autarquias

Escola Básica e Secundária de Águas Santas, a maior escola da Maia, uma pesada responsabilidade para o Município

Na votação, na sessão de hoje da Assembleia Municipal, da proposta da Câmara Municipal de rejeitar a transferência de competências na área da Educação para o Município, a CDU votou a favor, mas salientou que as suas razões são diferentes das do Executivo. Para os eleitos comunistas, o direito à Educação é um direito fundamental, que deve ser garantido a todos os portugueses, pelo que deve ser da competência do Estado e não pelas autarquias.
  

Intervenção de Carla Ribeiro


Com o diploma agora em apreciação, o Governo pretende transferir para a responsabilidade dos municípios um muito pesado conjunto de matérias, que vai do planeamento, gestão e investimentos nas escolas (excepto de ensino superior) à promoção do cumprimento da escolaridade obrigatória, passando pela contratação e gestão de funcionários das carreiras de assistentes técnicos e operacionais, pela aquisição de bens e serviços necessários ao funcionamento das escolas e residências estudantis, entre outras.
Trata-se, como conclui o Executivo, de um processo com implicações muito severas ao nível financeiro, técnico e de recursos humanos, numa dimensão e com custos que nem este município nem a generalidade dos municípios está em condições de suportar, assim como não estará no futuro.
De facto, o Governo tem deixado muito claro, relativamente ao envelope financeiro a entregar, que da transferência de competências não pode resultar um incremento de despesa para o Estado, sendo igualmente evidente a enorme incerteza relativamente ao falhado fundo de financiamento da descentralização.
Por outras palavras, estão os municípios confrontados com um presente envenenado, um embuste perigoso, ainda por cima imposto a partir de 2021, independentemente da vontade de o rejeitar que hoje e em Junho manifestemos nesta sala, na medida em que, dentro de dois anos, a transferência será compulsiva, a menos que se revogue entretanto a Lei n.º 50/2018, em má hora aprovada pelo PS e pelo PSD no Parlamento.
Adivinham-se facilmente as consequências trágicas que, mais cedo do que tarde, o agravamento do subfinanciamento crónico e a dificuldade de muitos municípios de gerir a complexidade das responsabilidades que lhes são impostas trarão às escolas, ao ensino, às crianças e aos jovens: a degradação acelerada e a destruição do sistema público, senão em todo, pelo menos em grande parte do território.
No plano concreto imediato, as razões que o Executivo aduz para declinar – por agora! – as competências são aceitáveis, mas, tal como o PCP e a CDU tem vindo a advertir, a questão de fundo que a transferência das competências no âmbito da educação coloca é, de facto, o elevadíssimo risco de esta aventura aprofundar ainda mais as desigualdades.
A educação constitui um direito fundamental que a Constituição da República consagra igual para todos, o que significa que a escola pública deve proporcionar a todos condições idênticas, onde quer que residam, independentemente das capacidades técnicas e financeiras dos municípios, ou do maior ou menor engenho político dos eleitos locais.
Esta é uma das áreas, tal como a saúde (que em breve aqui trataremos), em relação às quais elementares princípios de igualdade, equidade social e coesão territorial as tornam insusceptíveis de qualquer municipalização, pois requerem sempre uma escala nacional, com estratégia, recursos, direcção e controlo de execução centralizados.
Assim, partilhando o objectivo de recusar a transferência, a CDU votará a favor, mas não acompanha a fundamentação da proposta da Câmara Municipal.

Disse.