sexta-feira, 29 de março de 2019

CDU defende estratégia regional de cultura

Mosteiro de Nossa Senhora do Ó, Águas Santas. Único monumento nacional
na Maia deve ser valorizado com programa de visitação 

No âmbito da falsa transferência de competências do Estado para os municípios, o Governo quer entregar às autarquias a gestão de património e de museus não nacionais. A CDU entende que as autarquias têm um papel muito importante neste domínio, mas alerta para as desigualdades que essa transferência pode gerar e defende a implementação de estratégias redes regionais. Foi o que defendeu na cessão de hoje da Assembleia Municipal.


Intervenção de Alfredo Maia

Não há dúvida de que a gestão, valorização e conservação do património, assim como a promoção da sua fruição pública, a gestão, valorização, conservação e promoção da visitação de museus e monumentos constituem actividades decisivas para a formação cultural e cívica dos cidadãos e para a elevação dos padrões da qualidade de vida das populações, além de contribuírem para o desenvolvimento económico local e regional, através do turismo e da dinamização de sectores a ele directa ou indirectamente ligados.
Trata-se de actividades nas quais as autarquias locais desempenham um papel central, seja na gestão, valorização, conservação e dinamização de imóveis e equipamentos culturais de sua propriedade e/ou à sua responsabilidade, incluindo através de programas de visitação, serviços educativos e estratégias de comunicação, seja na divulgação e promoção de unidades pertencentes a outras entidades, incluindo o próprio Estado.
Tais actividades dependem em muito das condições específicas de cada município, desde logo a sua capacidade financeira, mas também ao níveis da respectiva concepção de política pública para a cultura e o património e das estratégias para a valorização desses activos.
Por efeito do diploma aqui em debate, pretende o Governo transferir para os municípios enormes responsabilidades sobre elementos do património que, embora classificados, se considere de âmbito local, bem como de museus que não sejam nacionais.
Acresce que serão também da competência dos municípios a selecção, o recrutamento e a gestão de trabalhadores a afectar.  
Tal transferência apresenta, no entanto, enormes riscos de agravamento das desigualdades entre municípios, tendo em conta as condições, muito diversas, de cada um, agora a braços com novas responsabilidades e sem que se vislumbre o reforço adequado de verbas, e de desarticular a oferta cultural nestes domínios, que deveria obedecer a uma estratégia integrada, incluindo em termos de mobilização de recursos, e a uma direcção central, pelo menos à escala regional.
De facto, no âmbito da regionalização, que tantos adeptos parece ter ciclicamente mas que poucos defensores consequentes, como os eleitos da CDU, tem no terreno, faz todo o sentido criar redes regionais de património e museus, pensadas, executadas e geridas de forma integrada por estruturas sob a condução política e a direcção técnica de nível intermédio, sem prejuízo da articulação coerente com uma estratégia nacional.
É nesse sentido que, embora o Executivo fundamente a sua proposta de declinar as competências referidas no facto de não constar qualquer património classificado ou museu susceptíveis de passarem para a esfera municipal, o Grupo Municipal CDU nesta Assembleia entende que a referida transferência deve ser rejeitada.
Ou seja, a serem transferidas tais competências – e a discussão tem de fazer-se com o rigor que manifestamente tem faltado – , só podem sê-lo para um nível intermédio que garanta robustez,  coerência e qualidade a reconfiguração da oferta e sobretudo as funções do património e dos museus a colocar em redes regionais.

O mesmo diploma em debate determina ainda a transferência de exigentes competências em matéria de “controle prévio e fiscalização de espectáculos de natureza artística”, que o Executivo reconhece exigirem conhecimento e domínio muito especializado de matérias para as quais não possui recursos humanos em número e qualidade no ano em curso.
Mais uma vez, divergimos do teor e no alcance da proposta do Executivo em duas variáveis muito importantes:
- A que respeita à capacitação em termos de recursos humanos qualificados para o efeito, tendo em conta o confessado propósito do Governo de não reforçar, nem agora nem nunca, os municípios com dotações financeiras proporcionais às novas responsabilidades: e
- A apreciação do problema de virem os municípios a possuir competências de fiscalização de actividades que exigem uma regulamentação unificada em todo o território nacional, quando a definição integrada e coerente de estratégias e procedimentos deveria respeitar a todo o país, a executar sob uma direcção e dotação adequada em recursos, pelo menos à escala das regiões, que garantam efectiva eficácia, maior eficiência e mesmo equidade territorial.

Disse.