quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

CDU vota contra Orçamento da Câmara para 2018


Na sessão de hoje da Assembleia Municipal, a CDU votou contra as propostas de Grandes Opções do Plano e de Orçamento da Câmara Municipal para o exercício de 2018. 

Em nome da bancada, o deputado Alfredo Maia fez a seguinte intervenção:

As propostas de Grandes Opções do Plano e de Orçamento para 2018, bem como os respectivos documentos previsionais, trazidos pela Câmara Municipal, aprovadas apenas pela maioria, espelham um conjunto de opções, mas também de omissões, em matérias essenciais para as populações que justificam o voto contra da CDU.
Antes de mais, cumpre denunciar o incumprimento, no que é prática reiterada da Câmara e que o novo mandato não altera, do direito de consulta prévia aos partidos da oposição na Assembleia não representados no Executivo ou sem pelouro atribuído, previsto no artigo 5.º do Estatuto do Direito de Oposição, mas do qual a maioria que tem governado este Município faz sistematicamente tábua rasa.
O orçamento em apreciação prevê uma receita de quase 80 milhões de euros, traduzindo um aumento da ordem dos seis milhões – cerca de 8,5% - em relação ao previsto para o exercício de 2017, em boa parte devido a um acréscimo previsível de 3,4 milhões a título de transferências de capital, sobretudo de fundos provenientes do programa Portugal 2020; assim como um incremento previsível próximo dos 2,9 milhões em arrecadação de impostos directos, ou seja, mais 7,8%.
No que diz respeito ao aumento da receita a título de impostos directos, as previsões indicadas significam que o Município estaria em condições de acomodar designadamente a proposta da CDU com vista à redução do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) para os 0,380%, redução essa que contribuiria para incrementar uma política fiscal mais justa para as famílias.
 Por outro lado, seria possível acomodar a isenção de taxa de derrama para as empresas com volumes de negócios iguais ou inferiores a 150 mil euros, igualmente proposta pela CDU, isenção essa que contribuiria para a dinamização das pequenas e médias empresas do concelho e para a criação de mais postos de trabalho.
Trata-se de uma medida exequível já posta em prática em Matosinhos – aliás por proposta da CDU –, onde o impacto financeiro para a autarquia, da ordem dos 600 mil euros, pode considerar-se pouco significativo em termos de renúncia a impostos directos mas que resulta em apoio concreto ao importante universo das PME.
Ainda no que tange ao orçamento de receitas, destaca-se a manutenção de uma expectativa significativa na alienação de bens de investimento da ordem dos 8,1 milhões de euros, com a venda de lotes de terrenos, vários dos quais transitam, com preços revistos em alta, de orçamentos anteriores.
Já no que se refere às despesas, assinala-se o natural aumento das despesas com pessoal, em consequência do descongelamento das carreiras dos trabalhadores da Administração Pública graças ao empenho e à luta dos trabalhadores e das suas organizações, bem como ao apoio activo do PCP nas várias frentes de intervenção.
Assinala-se como importante a abertura de procedimentos concursais para admissão de pessoal, mas deve sublinhar-se a urgência de regularização de todas as situações de trabalho precário, que ainda campeiam em grande número.
Em contrapartida, o orçamento consagra um peso manifestamente excessivo da despesa com aquisição de serviços – da ordem dos 16,8 milhões de euros, superior em dois milhões à do ano prestes a findar – com apreciáveis aumentos em rubricas como estudos e consultadoria (mais quase 412 mil euros) e em trabalhos especializados (acréscimo superior a 263 mil euros).
Trata-se de uma matéria em relação à qual a CDU tem sido muito clara: a menos que se trate de situações verdadeiramente excepcionais, mormente em razão de especialidades muito específicas e fora da rotina do Município, não deve externalizar-se o trabalho que pode realizar-se com recursos próprios.
Por exemplo, não se compreende que a Autarquia, necessitando de competências próprias permanentes na área das tecnologias de informação e comunicação (TIC), deva recorrer a consultadorias externas.  
No que diz respeito a opções e investimentos estratégicos para a melhoria das condições de vida das populações, os documentos em apreciação neste plenário comprovam a falta de qualquer compromisso em relação às inúmeras situações gritantes de falta de habitação – e de habitação digna.
Por um lado, assinala-se que da muito expressiva redução do montante de subsídios (em menos 47%), a maior parte é imputável à área de habitação social, alegando a maioria no Executivo com a tramitação ainda em curso do novo contrato-programa com a empresa Espaço Municipal que relega para algures no segundo semestre uma dotação de apenas 1,4 milhões de euros.
Ora, se há área de urgência tão extrema e tão profunda que as GOP e o Orçamento não devem deixar de dotar permanentemente de projectos e de verbas é a habitação – e não apenas a reabilitação e conservação de fogos sociais, mas também a criação de mais habitações, tal é a gravidade da carência, como revela a lista de largas centenas de famílias à espera, muitas há uma década, não sendo excessivo arriscar que a carência real ultrapasse o milhar de agregados.
No entanto, não está previsto um único novo projecto neste domínio, nem é expressa a mínima intenção programática de encetar novos projectos nos próximos anos. Não chega invocar os deveres do Estado e a expectativa dos resultados do levantamento de necessidades em curso à escala nacional, já que todos os dias as situações de degradação se agravam.
Por falar em degradação, não pode passar incólume e sem crítica severa a ridícula dotação de dez mil euros para cada um dos quatro mercados prevista na rubrica de investimento directo do Município, conhecido que é o estado de todos eles e a necessidade imperiosa de melhorar as suas condições e dinamizar estes equipamentos essenciais à economia local.
No que diz respeito ao Plano Plurianual de Investimentos, aliás caracterizado por escassa iniciativa nova, algumas questões devem ser colocadas.
É o caso da prevista aquisição dos edifícios Lidador, Alvorada e Guanabara, na Praça Dr. José Vieira de Carvalho, e do Património dos Pobres, em Gueifães. Pergunta-se: para que fins?
É o caso também do previsto apoio – de um milhão de euros em dois anos – “à construção de uma ‘unidade de cuidados continuados’ a ser levado a efeito por uma IPSS ou outras entidades similares que tenham essa vocação”; e de um apoio – de 300 mil euros em três anos – à “implantação de um ‘serviço de cuidados de saúde urgentes’ a ser levado a efeito por IPSS ou outra entidade similar que detenha essa vocação”.
Pergunta-se: com que base de análise e prospectiva quanto a necessidades se abalança a Câmara a prever estes apoios? Se não sabe que entidades estarão interessadas nesses equipamentos, ou mesmo se existem, ou que projectos têm nestes domínios, como chegou à previsão dos valores referidos?
No capítulo da Cultura, com uma dotação global de pouco mais de 1,1 milhões de euros, as GOP não primam propriamente pela ambição e pela fuga à programação rotineira e sem grande inovação (orçamentada em pouco mais de 636 mil euros), apesar da introdução, em 2018, do Festival Internacional de Verão e do Mês da Arquitectura.
O Município da Maia possui equipamentos e espaços com um enorme potencial para o colocar no centro da agenda cultural permanente da região, mas tal desiderato não está reflectido nas opções e no orçamento que esta Assembleia vai votar. 
Para terminar, duas notas essenciais sobre outras matérias a que os cidadãos são cada vez mais sensíveis.
A primeira, relativamente ao volume de contratação de serviços para a construção e manutenção de espaços ajardinados, bem como à aquisição de espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas. Por um lado, é de toda a vantagem de dotar o Município de equipas próprias para este efeito; por outro, é urgente a implementação de uma verdadeira política de valorização das espécies autóctones e de erradicação das espécies invasoras.
A segunda, relativamente ao Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios: não será excessivamente reduzida a dotação de 30 mil euros para uma área tão importante?           
                 
Disse