“A Imprensa Clandestina” é o título de uma importante
exposição patente ao público, no Fórum da Maia, até 16 de Junho, numa produção
do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Maia e da Direcção da Organização
Regional do Porto (DORP) do Partido Comunista Português (PCP).
Inaugurada nesta quinta-feira, 27, com a participação do
presidente da Câmara Municipal, António Domingos da Silva Tiago, do vereador da
Cultura, Mário Nuno Neves, e de Jaime Toga, do Secretariado do Comité Central
do PCP e responsável pela DORP, a exposição mostra o valioso património de
órgãos de imprensa produzidos e distribuídos clandestinamente pelo PCP, de
entre os quais se destaca o Avante!.
Entre os materiais patentes a exposição, que pode ser
visitada de terça-feira a domingo, das 10 às 22 horas, destacam-se um
impressionante painel dedicado a dezenas de maiatos presos na cadeia da PIDE, por
distribuírem o Avante!, evocações do
assalto à casa do funcionário do PCP Joaquim Campino, na Maia, e a participação
de maiatos na resistência ao fascismo e na luta contra a entrega de bens
alimentares à Alemanha nazi, bem como para um prelo clandestino.
Intervenção
de Jaime Toga
Jaime Toga, responsável da DORP do PCP na abertura da exposição |
Em nome da DORP do PCP, uma fraterna saudação a todos os presentes.
As nossas primeiras palavras são de agradecimento e
valorização da disponibilidade e da postura da Câmara Municipal da Maia – e em
particular do seu pelouro da Cultura – por se terem disponibilizado para
coorganizar esta exposição com o PCP.
Uma postura que tem um particular relevo porque
significa tomar partido. Tomar partido do lado dos que não aceitam que o
fascismo seja branqueado. Tomar partido do lado dos que não ficam indiferentes
perante os perigos dos dias de hoje e decidem agir para que a memória não se
apague e para darem o seu contributo para que nunca mais aconteça fascismo.
Um agradecimento ainda para os funcionários da Câmara
Municipal da Maia que colaboraram na montagem da exposição, particularmente à
Dra. Sofia Barreiros pela disponibilidade e competência com que esteve em todo
o processo.
Caros amigos, caros camaradas.
Os jornais clandestinos foram a forma encontrada pelo
Partido para furar a censura e levar as posições do PCP, as notícias da
resistência e da luta ao povo, dando-lhes o ânimo, a coragem e a confiança para
prosseguirem.
Nesta exposição damos a conhecer muitos desses
jornais. São cerca de 30 títulos diferentes de jornais editados, uma parte
deles foi produzida na prisão pelos comunistas presos, que são verdadeiras
obras de arte, embora pouco conhecidos.
De todos os títulos em exposição, destaca-se o
«Avante!» que foi o jornal comunista editado durante mais tempo em
clandestinidade, em todo o mundo. Durante décadas orientou e mobilizou as lutas
da classe operária e de todos os trabalhadores em pequenas e grandes batalhas
contra o fascismo. Orientou e mobilizou sectores democráticos e ajudou a
construir a unidade antifascista.
Dotado de uma rede de tipografias clandestinas, o
«Avante!» foi, durante essas décadas, composto e impresso sempre no interior do
país, envolvendo numerosos camaradas, na sua maior parte militantes anónimos,
cuja vida foi dedicada a essa preciosa tarefa. Impresso em prelos concebidos para
as condições de clandestinidade, utilizando caracteres de chumbo, composto
letra a letra, impresso em papel muito fino, era distribuído por todo o País,
pelas organizações que o faziam chegar às massas.
Muitos camaradas arriscaram a vida e a liberdade para
manterem a funcionar esse aparelho. A todos eles prestamos uma homenagem nesta
exposição.
À direita, Faustina, antiga funcionária clandestina do PCP responsável por uma tipografia, também clandestina |
Um momento que tem um particular significado para nós,
comunistas, onde evocamos a nossa História, uma história heroica de muitos
homens e mulheres que se entregaram à luta pela liberdade e a democracia, pelo
socialismo e o comunismo.
Uma entrega que, para muitos, significou cortar
qualquer contacto futuro com a família, com os amigos, com os filhos. Que
significou optar por entregar os melhores anos da sua vida à luta que não era só
sua, mas era uma luta e um anseio colectivo, uma luta e um anseio dos
trabalhadores e do povo.
Um passo que centenas de camaradas deram sabendo do risco
de prisão, das torturas, dos espancamentos e das mortes de muitos às mãos da
PIDE e do fascismo que durante 48 anos esmagou o nosso povo e o nosso país.
Temos muito orgulho no nosso passado e achamos justo e
merecido evocar estes heróis. Mas olhamos para o PCP convictos de que tem mais
futuro que passado, que tem mais projecto que história porque transporta
consigo este objectivo nobre de pôr fim a todas as formas de exploração e
opressão.
Esta exposição também é assim, como o centenário do
PCP: tem muita história, mas é carregada de futuro. É homenagem e
reconhecimento, mas também é esperança e confiança.
É tudo isso, por exemplo, quando percorremos a
exposição e passamos pelo prelo ou assistimos ao vídeo com a Faustina (aqui
presente), se nos lembrarmos que ela era uma rapariga com 16 anos quando
mergulhou na clandestinidade e assumiu tarefas nas tipografias clandestinas.
Não sabia o que era o marxismo-leninismo, mas sabia que havia fome e queria
lutar contra isso. Aprendeu a simular uma vida que não era sua, passou momentos
muito difíceis, mas nunca perdeu a esperança nem o ânimo na luta pela Liberdade
e a Democracia.
Olhando para esta exposição, não podemos deixar de
reter o significado da prisão de mais de 600 pessoas na nossa região, por lerem
ou distribuir o “Avante!”, nos anos de 1938 e 1939.
Destacamos a luta da população da Maia em 1944 contra
a fome e a denúncia de que os bens alimentares que lhes faltavam estavam a ser
enviados para a Alemanha Nazi.
Lembramos o papel dos jovens trabalhadores de Pedrouços,
muitos deles católicos, que no final da década de 60 se organizaram no núcleo
do MJT, que teve um relevante papel em defesa da liberdade e da paz, contra a
guerra colonial.
Lembramos e valorizamos todos estes, mas sempre sem esquecer
os muitos militantes anónimos que arriscaram muito para ajudar, como fez a Eva
e o Libertário cuja casa, aqui na Maia, foi apoio para o Partido, serviu para
reuniões, para guardar prelos e copiadores clandestinos, recebeu muitos
camaradas a quem nunca se perguntavam quem eram, mas a quem se dava sempre o
conforto e a camaradagem.
A todos estes que lutaram quando lutar significava arriscar
a vida, nós temos o dever de dizer que não foi em vão a sua luta.
Conscientes e respeitadores das diferenças, somos
capazes de aprender com a história e dizer que não queremos andar para trás,
não queremos mais fascismo, não queremos mais torturas, não queremos mais fome
e miséria do nosso povo.
Que esta exposição seja um contributo para que nunca
mais aconteça fascismo!