quinta-feira, 27 de maio de 2021

Maiatos em destaque na exposição "A Imprensa Clandestina"

 


“A Imprensa Clandestina” é o título de uma importante exposição patente ao público, no Fórum da Maia, até 16 de Junho, numa produção do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Maia e da Direcção da Organização Regional do Porto (DORP) do Partido Comunista Português (PCP).


Inaugurada nesta quinta-feira, 27, com a participação do presidente da Câmara Municipal, António Domingos da Silva Tiago, do vereador da Cultura, Mário Nuno Neves, e de Jaime Toga, do Secretariado do Comité Central do PCP e responsável pela DORP, a exposição mostra o valioso património de órgãos de imprensa produzidos e distribuídos clandestinamente pelo PCP, de entre os quais se destaca o Avante!.

Entre os materiais patentes a exposição, que pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 10 às 22 horas, destacam-se um impressionante painel dedicado a dezenas de maiatos presos na cadeia da PIDE, por distribuírem o Avante!, evocações do assalto à casa do funcionário do PCP Joaquim Campino, na Maia, e a participação de maiatos na resistência ao fascismo e na luta contra a entrega de bens alimentares à Alemanha nazi, bem como para um prelo clandestino.

 

Intervenção de Jaime Toga

Jaime Toga, responsável da DORP do PCP na abertura da exposição

Em nome da DORP do PCP, uma fraterna saudação a todos os presentes.

As nossas primeiras palavras são de agradecimento e valorização da disponibilidade e da postura da Câmara Municipal da Maia – e em particular do seu pelouro da Cultura – por se terem disponibilizado para coorganizar esta exposição com o PCP.

Uma postura que tem um particular relevo porque significa tomar partido. Tomar partido do lado dos que não aceitam que o fascismo seja branqueado. Tomar partido do lado dos que não ficam indiferentes perante os perigos dos dias de hoje e decidem agir para que a memória não se apague e para darem o seu contributo para que nunca mais aconteça fascismo.

Um agradecimento ainda para os funcionários da Câmara Municipal da Maia que colaboraram na montagem da exposição, particularmente à Dra. Sofia Barreiros pela disponibilidade e competência com que esteve em todo o processo.

 

Caros amigos, caros camaradas.

Os jornais clandestinos foram a forma encontrada pelo Partido para furar a censura e levar as posições do PCP, as notícias da resistência e da luta ao povo, dando-lhes o ânimo, a coragem e a confiança para prosseguirem.

Nesta exposição damos a conhecer muitos desses jornais. São cerca de 30 títulos diferentes de jornais editados, uma parte deles foi produzida na prisão pelos comunistas presos, que são verdadeiras obras de arte, embora pouco conhecidos.

De todos os títulos em exposição, destaca-se o «Avante!» que foi o jornal comunista editado durante mais tempo em clandestinidade, em todo o mundo. Durante décadas orientou e mobilizou as lutas da classe operária e de todos os trabalhadores em pequenas e grandes batalhas contra o fascismo. Orientou e mobilizou sectores democráticos e ajudou a construir a unidade antifascista.

Dotado de uma rede de tipografias clandestinas, o «Avante!» foi, durante essas décadas, composto e impresso sempre no interior do país, envolvendo numerosos camaradas, na sua maior parte militantes anónimos, cuja vida foi dedicada a essa preciosa tarefa. Impresso em prelos concebidos para as condições de clandestinidade, utilizando caracteres de chumbo, composto letra a letra, impresso em papel muito fino, era distribuído por todo o País, pelas organizações que o faziam chegar às massas.

Muitos camaradas arriscaram a vida e a liberdade para manterem a funcionar esse aparelho. A todos eles prestamos uma homenagem nesta exposição.

 

À direita, Faustina, antiga funcionária clandestina do PCP responsável por uma tipografia, também clandestina   

A exposição que hoje inauguramos é feita no ano em que assinalamos o centenário do PCP.

Um momento que tem um particular significado para nós, comunistas, onde evocamos a nossa História, uma história heroica de muitos homens e mulheres que se entregaram à luta pela liberdade e a democracia, pelo socialismo e o comunismo.

Uma entrega que, para muitos, significou cortar qualquer contacto futuro com a família, com os amigos, com os filhos. Que significou optar por entregar os melhores anos da sua vida à luta que não era só sua, mas era uma luta e um anseio colectivo, uma luta e um anseio dos trabalhadores e do povo.

Um passo que centenas de camaradas deram sabendo do risco de prisão, das torturas, dos espancamentos e das mortes de muitos às mãos da PIDE e do fascismo que durante 48 anos esmagou o nosso povo e o nosso país.

Temos muito orgulho no nosso passado e achamos justo e merecido evocar estes heróis. Mas olhamos para o PCP convictos de que tem mais futuro que passado, que tem mais projecto que história porque transporta consigo este objectivo nobre de pôr fim a todas as formas de exploração e opressão.

Esta exposição também é assim, como o centenário do PCP: tem muita história, mas é carregada de futuro. É homenagem e reconhecimento, mas também é esperança e confiança.

É tudo isso, por exemplo, quando percorremos a exposição e passamos pelo prelo ou assistimos ao vídeo com a Faustina (aqui presente), se nos lembrarmos que ela era uma rapariga com 16 anos quando mergulhou na clandestinidade e assumiu tarefas nas tipografias clandestinas. Não sabia o que era o marxismo-leninismo, mas sabia que havia fome e queria lutar contra isso. Aprendeu a simular uma vida que não era sua, passou momentos muito difíceis, mas nunca perdeu a esperança nem o ânimo na luta pela Liberdade e a Democracia.

Olhando para esta exposição, não podemos deixar de reter o significado da prisão de mais de 600 pessoas na nossa região, por lerem ou distribuir o “Avante!”, nos anos de 1938 e 1939.

Destacamos a luta da população da Maia em 1944 contra a fome e a denúncia de que os bens alimentares que lhes faltavam estavam a ser enviados para a Alemanha Nazi.

Lembramos o papel dos jovens trabalhadores de Pedrouços, muitos deles católicos, que no final da década de 60 se organizaram no núcleo do MJT, que teve um relevante papel em defesa da liberdade e da paz, contra a guerra colonial.

Lembramos e valorizamos todos estes, mas sempre sem esquecer os muitos militantes anónimos que arriscaram muito para ajudar, como fez a Eva e o Libertário cuja casa, aqui na Maia, foi apoio para o Partido, serviu para reuniões, para guardar prelos e copiadores clandestinos, recebeu muitos camaradas a quem nunca se perguntavam quem eram, mas a quem se dava sempre o conforto e a camaradagem.

A todos estes que lutaram quando lutar significava arriscar a vida, nós temos o dever de dizer que não foi em vão a sua luta.

Conscientes e respeitadores das diferenças, somos capazes de aprender com a história e dizer que não queremos andar para trás, não queremos mais fascismo, não queremos mais torturas, não queremos mais fome e miséria do nosso povo.

Que esta exposição seja um contributo para que nunca mais aconteça fascismo!