segunda-feira, 26 de abril de 2021

CDU contra privatização do Mercado do Castêlo e expulsão dos feirantes

Câmara não deu condições a feirantes e agora quer privatizar mercado

A CDU votou hoje contra a concessão a privados da recuperação e exploração do Mercado Municipal do Castêlo da Maia, denunciando que está em marcha uma operação de limpeza social, com a expulsão dos comerciantes e feirantes que ali têm trabalhado em más condições, sem que a Câmara Municipal se tenha preocupado em melhorá-las.


Intervenção de Alfredo Maia

Os eleitos da CDU encaram esta proposta de concessão do Mercado Municipal do Castêlo da Maia com perplexidade e indignação.

Perplexidade, porque, ao cabo de muitas décadas com a responsabilidade de gerir mercados e feiras, o Executivo Municipal vem confessar-nos agora que não tem capacidade para gerir um mercado municipal, que “falta Know-How ao Município”.

Do comportamento negligente e da incompetência que levou à degradação deste importante equipamento – apesar de tratar-se de um pequeno mercado –, já todos tínhamos dado conta e qui mesmo a CDU já referiu por várias vezes o estado deplorável a que chegou.

Mas esta bizarra confissão de incapacidade para gerir o mercado – um mercado de pequena dimensão, insista-se, e que pode e deve ser modernizado sem que a Maia desmunicipalize as suas responsabilidades - deixa-nos justificadamente perplexos, quando, o mesmo Executivo aceita e aceitará gerir áreas muitíssimo mais complexas e equipamentos e serviços muitíssimo mais vastos ao abrigo da famigerada transferência de competências, que mais não é do que transferência de encargos e de riscos que devem caber ao Estado.

Perplexidade, porque o Executivo – aliás por unanimidade!, já que a proposta é alegremente sufragada pela coligação PS/JPP – vem invocar em socorro da sua opção os encargos entre pouco mais de 830 mil euros e pouco mais de 1,4 milhões de euros, consoante as possibilidades de ocupação de espaços, que teria de assumir para proceder à reabilitação e requalificação do imóvel.

Veja-se bem, senhores deputados: 1,4 milhões de euros, uma verba quase irrisória tendo em conta a situação económico-financeira do Município, com significativos resultados financeiros transitados, e, sobretudo, quando se passaram anos e anos sem que a Câmara investisse um euro que fosse naquele equipamento.

Indignação, porque a operação que para prepara o Executivo é uma espécie de limpeza social, assumindo com cínica evidência de que à concessão da reabilitação, requalificação, manutenção e conservação do edifício por um período de 20 anos prorrogável, está inevitavelmente associada a expulsão dos comerciantes e feirantes que ali têm tido parte do seu ganha-pão.

É o que resulta da invocação, expressa na proposta, do carácter precário dos títulos de autorização de utilização do Mercado Municipal do Castêlo da Maia concedidos aos comerciantes e feirantes.

Traduzido em bom português, significa que tais títulos não conferem quaisquer direitos às pessoas que têm suportado a degradação das condições do mercado, mas que todavia têm procurado, com sacrifício, manter o serviço às populações do Castêlo e das freguesias e até concelhos vizinhos.

Indignação, porque do que se tratará é realmente de uma expulsão, pois é legítimo recear que as condições de exploração do mercado pela iniciativa privada – evidentemente com o objectivo de remunerar os investimentos e obter os lucros que pretende – jamais tornarão alcançáveis a muitos dos comerciantes e feirantes, muitos deles modestos pequenos produtores – as rendas certamente elevadas que se esperam num chamado “mercado moderno”.

Indignação, Senhor Presidente da Câmara e Senhores Vereadores, Senhores deputados, indignação porque não há eufemismo que disfarce o que realmente se pretende – além da expulsão, uma verdadeira segregação de tantas mulheres e tantos homens, alguns já de idade avançada, que igualmente está em preparação.

De facto, reza a proposta que o Município “se reserva o direito de promover uma feira de levante, à segunda-feira de manhã, na Praça de 5 de Outubro e no Monte de Santo Ovídio”, isto é, em condições precárias e ainda piores do que aquelas em que se encontram.

 

Em conclusão, por muito verniz de modernidade e “desenvolvimento” que se tente disfarçar a operação de privatização do Mercado Municipal do Castêlo da Maia, por muitas desculpas de incompetência subitamente assumidas pela Câmara, nada justifica o que está em marcha.

Por conseguinte, a CDU não só votará com toda a veemência contra esta proposta, como denunciará as suas consequências e estará ao lado das vítimas da operação que ela visa, em defesa dos seus legítimos direitos, incluindo o de permanecer no mercado que tem sido o seu em condições adequadas às suas capacidades.