segunda-feira, 29 de abril de 2019

CDU vota Contas e denuncia falta de obra

CDU contesta Contas da Câmara Municipal


Na sessão da Assembleia Municipal realizada nesta segunda-feira, a CDU votou contra a Prestação de Contas e o Relatório de Gestão da Câmara no exercício de 2018, considerando, entre outras razões,  que faltaram investimentos directos fundamentais em áreas como a habitação, arruamentos e parques e que o Município deveria ter amortizado mais dívida.    

Intervenção de Alfredo Maia


O Executivo apresenta a esta Assembleia a Prestação de Contas e o Relatório de Gestão da Câmara Municipal com um saldo de gerência superior a 20 milhões de euros, o que até pode ser uma boa notícia, mas que justifica algumas interrogações sobre o desempenho do exercício.

As receitas de capital, como o próprio documento reconhece, continuam muito aquém do previsto. Dos mais de 16,1 milhões de euros orçamentados, foram concretizados apenas 6,3 milhões, ou seja, 39%. Trava-se de uma variação negativa numa ordem de grandeza próxima da registada no exercício anterior.

Seria útil uma explicação para essa variação, pois de outro modo poderemos ser tentados a concluir que o Executivo procede a previsões inflacionadas das receitas de capital. Se assim é, gostaríamos de saber por que razões o faz.

Na análise das receitas, ressalta mais uma vez o desempenho dos impostos directos, que aliás aumentaram 11,4%, permitindo arrecadar quase 44 milhões de euros, que correspondem a mais de 59% do total de receitas (74,3 milhões).

Vejamos os mais significativos:

O Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), que representa metade dos impostos cobrados, ascende a mais de 22 milhões, ou seja, uma subida de 4,2% em relação a 2017

O Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas de Imóveis, com uma receita de mais de 10,1 milhões, regista um crescimento muito significativo de 48,7%.

Significa que as receitas de impostos relacionadas nomeadamente com os imóveis permitem, como a CDU tem defendido, acomodar medidas de redução dos encargos fiscais das famílias, muitas das quais são “proprietárias” forçadas das suas habitações, empurradas para a compra por um mercado de arrendamento a valores cada vez mais exorbitantes.

No capítulo dos encargos financeiros, chamamos a atenção para os efeitos negativos do contrato de financiamento com a CGD, de quase 3,9 milhões de euros para o processo de dissolução do Fundo de Investimento Imobiliário Maia Golfe

Ainda relacionado com o Fundo Maia Golfe, anote-se o aumento da despesa de capital com a aquisição de bens de capital (mais 1,7 milhões) em consequência da aquisição, pela Câmara, de propriedades (47 parcelas de terrenos e um prédio urbano na freguesia de Nogueira e Silva Escura) de integravam este fundo, com o processo de dissolução e liquidação, no montante de mais de 8,8 milhões de euros.

Já agora, perguntamos: o que pretende o Executivo fazer com essas propriedades?

Como já referido, assinala-se, além de um resultado líquido do exercício de cerca de 11,5 milhões de euros, o registo de um Saldo de Gerência que transita para o exercício já em curso de 20,6 milhões.

Como temos defendido, é bom poupar e o Município da Maia deve fazê-lo, mas com peso, conta e medida, assim como devem ser avaliadas as razões desse resultado e, sobretudo, o que poderia ter sido feito e não foi.

Entre as explicações à vista no documento, ressalta, por exemplo, a diminuição em mais de 970 mil euros nos subsídios (despesas correntes) para a empresa Espaço Municipal, devido à aprovação tardia do contrato-programa para a reabilitação de empreendimentos municipais.

Ora, por que razões não se conseguiu prevenir esse atraso?

Analisando a rubrica relativa ao investimento global, verificamos que, mais uma vez, não se verificou qualquer despesa com investimento directo na área da Habitação.

Em relação à rubrica construções diversas, que totalizaram apenas 3.425.325 euros, ou seja, 18,9% do total do investimento directo, um decréscimo significativo de quase quatro milhões de euros, que ganha expressão quando comparado com o exercício anterior, quando totalizaram 7.326.535 euros, ou seja 44,8% do Investimento Directo.

É um exemplo muito interessante de manifesta falta de obra e baixa execução do plano de investimentos e do orçamento para o exercício em apreço.

Estamos a falar de investimentos em infraestruturas necessários à satisfação das necessidades básicas das populações, designadamente viadutos, arruamentos, estradas e pontes, instalações de saneamento e água, bem como parques e jardins, parques de estacionamento, parques desportivos, entre outros.

Pois bem: quando há tanto e tanto a fazer por todo o concelho, especialmente no domínio de arruamentos e passeios, a Câmara executou apenas 44,2% dos mais de 7,7 milhões de euros previstos.   

Portanto, e em síntese, a Câmara arrecadou e poupou, mas poderia ter feito muito mais obra, ao mesmo tempo que poderia e deveria ter aproveitado uma parte do encaixe financeiro para amortizar dívida. É certo que esta tem vindo a ser reduzida, mas poderia sê-lo ainda mais.

Finalmente, a CDU volta a chamar a atenção para o profundo e injusto desequilíbrio, no que se refere às transferências correntes e de capital, entre as instituições sem fins lucrativos e as juntas de freguesia.

Enquanto as dez juntas de freguesia, que sabemos lutarem contra o subfinanciamento crónico e dependerem excessivamente do Executivo camarário, receberam cerca de um milhão de euros, as instituições sem fins lucrativos receberam mais de 3,4 milhões. Este valor corresponde a 60,6% do total das transferências correntes e de capital.

Disse.